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sábado, 4 de junho de 2011

Interatividade, Tutoria e a Construção da Autonomia do Aluno

           Para desenvolver a autonomia do aluno, os cursos precisam tê-lo como foco, não o professor. Essa é a estrutura desejada da EAD. Essa mudança no foco tem sido chamada de format-shifting paradigm (Li, 2003), ou paradigma da mudança do formato, de presencial para a distância. Ela gera descontentamento nos alunos, por conta de insegurança, incerteza e desconforto. Neste contexto, o diálogo pedagógico é um fator essencial para que o aluno da EAD tenha sucesso, e o tutor tem um papel decisivo para fazer com que os alunos se sintam seguros, para que consigam romper com a postura passiva advinda da educação presencial.
O estudo autônomo é facilitado se o tutor promove a interatividade e apresenta aos alunos novas formas de desenvolvimento do aprendizado. Alunos formados e moldados na educação tradicional enfrentam algumas barreiras quando ingressam na EAD, pois nela precisam buscar conteúdos por conta própria e para tanto precisam desenvolver novas atitudes. Um dos desafios do tutor é atuar para que o processo de ensino-aprendizagem promova a responsabilidade do aluno em relação ao auto-estudo e o desenvolvimento das capacidades de auto-aprendizagem (Lapa, 2008; Alcantara, 2006).
Na EAD, o desafio da participação ativa do tutor no desenvolvimento da autonomia do aluno é difícil, talvez até mais difícil que na educação presencial. O aluno da EAD que teve a formação na educação presencial pode precisar de suporte para se adaptar ao modelo de aprendizagem a distância. Segundo Maravalhas et al (2010), a EAD é mais apropriada para adultos com maturidade e motivação para a auto-aprendizagem. Assim, contribuir para a construção da autonomia dos alunos é difícil porque eles são muito diferentes. Enquanto uma ação do tutor motiva alguns alunos a aprofundarem por conta própria o aprendizado, pode ser sem efeito ou ter efeito negativo para outros. A interatividade promovida pelo tutor facilita a integração dos diferentes alunos, por meio do compartilhamento de suas experiências.
Hurd (2005) discute a capacidade de reflexão dos alunos como elemento essencial no processo de exercer a autonomia. Reflexão é rever as experiências passadas e procurar aprender com elas. É, portanto, uma construção de conhecimento sobre si próprio e sobre o que ocorre em seu entorno (ambiente). O processo de reflexão é um componente do processo de ensino-aprendizagem, pois embasa o aprendizado e é vital para a prática profissional decorrente do que se aprende. A reflexão crítica é o processo de compreender, analisar, reconsiderar e questionar as experiências passadas. O feedback do tutor desenvolve nos alunos a capacidade de reflexão crítica e de auto-gestão, ou seja, contribui para que eles próprios se sintam capazes para corrigir e aprimorar suas ações de estudo.
O tutor precisa acreditar no aluno, precisar incentivá-los a desenvolver conhecimentos dentro e fora dos limites do ambiente de aprendizagem (Simões, 2010). Ao acreditar no aluno e contribuir para sua formação, o tutor interfere positivamente na sua capacidade de criticar tanto o conhecimento ao qual tem acesso como o seu ambiente de aprendizagem. Segundo Moran (2000), o tutor é um professor que deixa de ser informador e repassador de conteúdos para assumir uma função de orientador de aprendizagem e de gerenciador de comunicação. Ele deve considerar que todo aluno quer aprender, apesar das limitações (restrições) que enfrenta.
Segundo Kasworm e Yao (1992, apud Thomas e Owen, 2007), ajudar o aluno da EAD a desenvolver a habilidade de ser um agente independente (dirigido ou guiado por si próprio) em suas próprias experiências contribui para a construção interativa de significados e para o desenvolvimento de habilidades do tipo “aprender como aprender”. Além disso, cria-se um ambiente propício para aprendizagem relevante de forma autônoma. Assim, o aluno se torna ativo em termos de auto-direcionamento (autonomia) uma vez que se engaja nas decisões operacionais (executivas) do processo de aprendizagem. Ou seja, o aluno participa do controle das ações do aprendizado, interage com mais desenvoltura e desenvolve sua autonomia.
As novas tecnologias têm possibilitado a criação de novas atividades didáticas, tornando o computador uma ferramenta que pode facilitar e motivar o estudo autônomo. Weininger (1996), por exemplo, já em 1996 discutia o papel da tecnologia na mudança no ensino de línguas estrangeiras. Nesse contexto, o tutor pode atuar para aproximar os alunos das tecnologias e promover seu uso de forma a incentivar a autonomia do aluno. Tanto tutor como aluno precisam de destreza no uso dessas tecnologias. Dominar as tecnologias significa estudá-las. As TICs facilitam o estudo autônomo, mas requerem seu domínio. Uma das funções desejadas do tutor é pesquisar continuamente sobre as formas de melhor utilizar essas tecnologias para promover o aprendizado. Há ainda muitas oportunidades para se ampliar o uso dessas tecnologias para promover e facilitar o estudo autônomo.
Referências Bibliográficas
HURD, S. Autonomy and the distance language learner. In: Holmberg, Boerje; Shelley, Monica and White, Cynthia eds. Distance education and languages: evolution and change. New perspectives on language and education. Clevedon, UK: Multilingual Matters, pp. 1–19. Disponível em <http://oro.open.ac.uk/622/1/Hurd_Autonomy_chapter.pdf>. Acesso em 15/11/2010.
MORAN, J. M. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias. In: Informática na Educação: Teoria & Prática, vol. 3, n.1 (set. 2000), Porto Alegre, UFGS, pág. 137-144.
LAPA, A.B. Introdução à Educação a Distância. Universidade Federal de Santa Catarina, 2008. Disponível em http://www.libras.ufsc.br/hiperlab/avalibras/moodle/prelogin/adl/fb/logs/Arquivos/ textos/intro_ead/Intro_EAD_pdf_.pdf. Acesso em 13/11/2010.
SIMÕES, A. Incentivar Métodos de Estudo. Disponível em <http://www.prof2000.pt/users/folhalcino/ formar/incentiv/incmetestud.html>. Acesso em 15/11/2010.
WEININGER, Markus J. Estudo autônomo com a ajuda de novas tecnologias no ensino comunicativo de línguas estrangeiras. In: VIIIº ENDIPE, 1996, Florianópolis. Disponível em http://www.ced.ufsc.br/~uriel/est-aut.htm. Acesso em 12/11/2010.
ALCANTARA, C.B. Internet e autonomia na aprendizagem do Francês língua estrangeira em meio universitário: a experiência com a plataforma COL. Dissertação (Mestrado). Departamento de Letras Modernas, Universidade de São Paulo, 2006.
MARAVALHAS, M.R.G. et AL. Novo professor, novo aluno e a educação ambiental na EAD: uma abordagem dos textos colaborativos em EAD do Curso de Formação de Tutores. 16º Congresso Internacional de Educação a Distância, Foz do Iguaçu, 2010. Disponível em <http://www.abed.org.br/congresso2010/cd/152010213859.pdf>. Acesso em 19 nov 2010.
LI, Sha. The format-shifting dilema in distance education. In: The quarterly review of distance education, v. 4, n. 2, 2003, pg. 109-127. Disponível em <http://myspace.aamu.edu/users/ sha.li/home/ ResearchArticle/Articles/formatshiftd.pdf>. Acesso em 12 nov 2010.
THOMAS, T.G.; OWEN,T.R. Decision-Making by online instructors: recognizing student potential for success. In: PAACE Journal of Lifelong Learning, v. 16, pg. 73-87, 2007. Disponível em <http://www.iup.edu/assets/0/347/349/4951/4977/10271/AA5EABD8-56DF-4F95-8FCA-5CB865796AEB.pdf>. Acesso em 11 nov 2010.

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